Conectados com a conjuntura brasileira, o Agência Tailândia convidou a engenheira agrônoma, Maria Eunice Lima Rocha, formada pela Universidade Federal Rural da Amazôni;. Mestra em Agronomia, pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná e Doutora em Agronomia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, para bater um papo sobre Tailândia e desenvolvimento. Atualmente a doutora coordena o Laboratório de Análises Agronômicas (LaBAgro), do município de Tailândia.
Agência Tailândia – Doutora Eunice, o que faz o município de Tailândia ser uma região muito procurada para o plantio de grãos?
Maria Eunice – De forma mais generalizada, o norte do Brasil, principalmente os estados incluídos na chamada “Amazônia Legal” vem ganhando bastante destaque na produção agrícola de grãos. Esses estados, a citar, Tocantins, Maranhão, Pará e algumas regiões de Rondônia são atrativas por fatores estratégicos e econômicos. Tailândia é uma dessas regiões que vem sendo procurada pelos motivos elencados abaixo.
O primeiro deles e o mais óbvio por muitos, é a disponibilidade de áreas ainda não exploradas. E, apesar de necessitarem de correções para melhorar sua produtividade, já que, muitas delas não foram usadas para cultivo intensivo, acabam sendo mais baratas em comparação a outras regiões agrícolas, que já estão saturadas, como exemplo, é possível citar o Sul e o Sudeste brasileiro.
O clima, em sua maioria, favorável a produção de duas ou três safras (dependendo da cultura implantada) é outro ponto relevante quando se fala da expansão das fronteiras agrícolas brasileiras (obviamente os últimos anos, o clima instável tem sido um grande desafio para a agricultura em todos os estados brasileiros, assim como em outros países). Apesar do estado paraense ter uma boa distribuição de chuva e temperaturas que favorecem a produção agrícola ao longo do ano, é necessário que, em algumas estações se faça uso de ferramentas tecnológicas para maximizar a produção, como é o caso da irrigação).
Investimentos em logística e apesar das dificuldades encontradas em grande parte das rodovias, no Estado do Pará os portos fluviais tornam o escoamento mais barato e eficiente.
Devido a alta demanda de alimentos e as regiões ainda pouco exploradas, políticas públicas e incentivos fiscais têm estimulado o agronegócio na região norte, a fim de otimizar a produção agrícola.
Claramente, há muita controvérsia na expansão das fronteiras agrícolas brasileira para a região norte do Brasil, já que, existem os bônus e ônus desse movimento. As vantagens, muitas vezes elencadas são: aumento da produção de alimentos, desenvolvimento econômico regional, modernização do campo, melhoria da infraestrutura, redução da pressão ambiental e econômica em áreas já saturadas, entre outras. Porém, se a agricultura continuar sendo explorada assim como nos outros estados, atrelado a isso, haverá aumento do desmatamento e degradação ambiental, pressão sobre recursos hídricos, conflitos sociais e fundiários, uso excessivo de agrotóxicos e com isso, aumento de doenças relacionadas a exposição continua a esses químicos; aumento da produção de monocultivos das commodities e redução das culturas alimentícias diretas. Dessa maneira, é necessário que o desenvolvimento agrícola esteja ligado a produção sustentável, promovendo benefícios econômicos, ambientais e sociais.

Agência Tailândia – Muitos ambientalistas dizem que a fronteira agrícola, que é a expansão da produção agropecuária sobre o meio ambiente, está chegando ao seu limite, à senhora concorda com essa afirmação?
Maria Eunice – Há alguns anos, o meio ambiente tem dado diversos sinais de que está chegando ao seu limite em função da exploração desenfreada que a agricultura, assim como outras práticas agrícolas ou não tem provocado. Desmatamento acelerado, mudanças climáticas extremas, falta de água em muitos locais, redução da biodiversidade de fauna e flora, degradação do solo, aumento da poluição rural e urbana, assim como aumento dos conflitos socioambientais são apenas alguns exemplos das respostas a exploração do meio. Baseado nisso, creio que, já ultrapassamos em muito o limite e agora precisamos urgentemente reverter essa situação. Apesar da conscientização ambiental estar sendo debatida por alguns, ela deve ser uma preocupação de todos os envolvidos, visto que, apenas assim, conseguiremos manter os benefícios econômicos e ecológicos, e promovendo uma agricultura sustentável e rentável para o futuro.
Agência Tailândia – Quando a senhora percebeu que o trabalho que escolheu poderia lhe satisfazer como profissional e, ao mesmo, tempo contribuir com a produtividade rural?
Maria Eunice – Eu costumo dizer que a agronomia me escolheu e não o contrário e que, principalmente, a pesquisa agrícola abriu minha mente para o entendimento de forma holística do desenvolvimento agrícola e seus nuances. Não sei datar exatamente quando isso aconteceu, porque foi uma construção de conhecimento ao longo de mais de 10 anos de estudo, mas creio que, conhecer realidades agrícolas diferentes foi crucial para entender como o
Brasil, um dos grandes destaques mundiais na produção agrícola está inserido na agricultura e o que pode ser realizado para melhorar. Eu costumo ouvir que a agricultura não para e que tudo é muito imediato e talvez por isso, alguns dos problemas ambientais estão sendo criados. Mas o que aprendi sendo pesquisadora nesta área é que, muitos estudos são realizados e muitos outros precisam ser desenvolvidos para que, consigamos transformar a agricultura atual, em uma agricultura regenerativa e sustentável.

Agência Tailândia – Sustentabilidade e eficiência energética são dois conceitos usados em tempos de debates sobre mudanças climáticas e COP-30, mas o que está sendo feito para aplicação destas práticas sem impactar com o agro e com desenvolvimento econômico?
Maria Eunice – A grande questão atual é exatamente isso, conciliar sustentabilidade e produção energética e esse tema será muito debatido no grande evento que acontecerá, bem estrategicamente no estado Paraense, a COP-30. A resposta para essa pergunta é complexa e muito divergente, dependendo quem seja questionado, mas sim, algumas estratégias já vêm sendo desenvolvidas ou tentando ser desenvolvidas no processo. Por exemplo, utilização de tecnologias como sensores, drones, softwares de gestão e dados climáticos que permitem o uso mais eficiente de água, fertilizantes e energia; irrigação inteligente que evita desperdícios de água; tratores e máquinas mais eficientes estão sendo produzidos com menor consumo de diesel e menor impacto ao meio ambiente; incentivo à agricultura de baixo carbono (Plano ABC+), que incentiva técnicas como plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), recuperação de pastagens degradadas, fixação biológica de nitrogênio; uso de fontes renováveis de energia, como por exemplo, painéis solares, energia eólica, biodigestores, biomassa e outros; descarbonização da cadeia de suprimentos, transporte ferroviário e hidroviário (menos poluentes que caminhões), armazenamento de grãos e suprimentos mais eficiente com menos desperdício de energia; créditos de carbono e mercado verde; parcerias público-privadas e acordos internacionais com União Europeia China e EUA que buscam investir em conservação de florestas, praticas agrícolas sustentáveis e uso de energia limpa.
Agência Tailândia – Deixe algumas dicas sobre o desenvolvimento rural no município de Tailândia?
Maria Eunice – Primeiro ponto, entender o que é desenvolvimento rural e que envolve, além dos fatores econômicos, o bem estar e melhoria da qualidade de vida dos envolvidos, direta e indiretamente no processo (inclui seres humanos, fauna, flora).
Além disso, entender que, uma agricultura não sustentável não é viável e rentável e que a sustentabilidade deve ser o principal pilar do desenvolvimento agrícola.
Incentivar práticas sustentáveis (rotação de culturas, uso racional da água, preservação de nascentes, utilização de terras já exploradas em detrimento da devastação de áreas florestadas).
Outro tópico é entender a realidade da região que está sendo realizada as atividades agrícolas, de forma que, as tecnologias aplicadas, assim como a diversidade rural devem ser direcionadas para cada realidade, assim como, devem ser respeitas. Nesse caso, é indispensável investir em pesquisa e inovação tecnológica para cada região explorada.
Inserção de políticas públicas voltadas a agricultura familiar, para incentivar a produção, não apenas de grãos, mas de outras fontes alimentícias ou industriais.
Além do incentivo a educação e inserção de jovens da região no trabalho agrícola, gerando empregos e permanência da juventude e na região, tal como, no campo, diminuindo o êxodo rural na região.